Até 1998, a Volkswagen não possuía um carro para competir abaixo do Polo no mercado europeu. Foi nesse cenário que nasceu o Volkswagen Lupo, um subcompacto desenvolvido para ser o modelo de entrada da marca, brigando com concorrentes como a Fiat. Curiosamente, seu nome, que significa “lobo” em latim, é uma homenagem ao animal símbolo da cidade natal da VW, Wolfsburg. O Lupo foi sucedido pelo Fox brasileiro e, posteriormente, pelo up!.
O Lupo era, na verdade, um grande laboratório de testes para a Volkswagen, antecipando diversas tendências e tecnologias que seriam aplicadas em modelos globais, inclusive alguns que chegaram ao Brasil.
Design e dimensões
O projeto do Lupo ficou a cargo de Jozef Kabaň, o mesmo designer que assinaria o Bugatti Veyron. Visualmente, ele utilizava a plataforma encurtada da terceira geração do Polo, que no Brasil foi vendida apenas como Polo Classic.
O design do Lupo antecipou parte da nova identidade visual da Volkswagen, como os faróis redondos no estilo Mercedes-Benz Classe E, que seriam usados no Polo de quarta geração em 2001. A parte inferior da carroceria em preto, por sua vez, trazia uma influência do Golf MK4.
O Lupo era notavelmente compacto: tinha 3,52 m de comprimento, 1,64 m de largura, 1,45 m de altura e um entre-eixos de 2,31 m. Ele era ligeiramente menor que o atual Fiat Mobi, mas possuía um entre-eixos surpreendentemente 1 cm maior, o que se devia ao posicionamento das rodas nas extremidades, maximizando o espaço interno.
O interior era prático, com diversos porta-objetos e espaço razoável para quatro passageiros. O rádio ficava posicionado no alto do painel, e as portas tinham partes de metal expostas, característica que seria repetida no up!.
Inovações tecnológicas do Lupo
O Lupo serviu de palco para algumas das mais importantes inovações tecnológicas da Volkswagen da época.
A busca por 33,3 km/l: Lupo 3L
A versão Lupo 3L foi um marco de eficiência. Seu objetivo era ser um carro que percorresse 100 km consumindo apenas três litros de diesel, o equivalente a 33,3 km/l nos padrões brasileiros.
Para atingir essa meta, o modelo contava com um motor 1.2 três cilindros turbo diesel com injeção direta, otimizado para a máxima eficiência. Além disso, o peso do carro foi drasticamente reduzido de 975 kg para 830 kg. Essa redução foi possível pela remoção do estepe e pela substituição de componentes como portas, capô, tampa do porta-malas, bloco do motor e sistema de suspensão por peças feitas em alumínio e magnésio.
O modelo utilizava um câmbio automatizado de embreagem única, mais eficiente que a caixa manual tradicional (apesar de ser conhecida pelos “trancos”). O Lupo 3L também incluía um modo Eco que reduzia a potência para 42 cv para poupar combustível.
Outro detalhe é que o volante do 3L era feito de alumínio para reduzir o peso – o mesmo design viria a ser usado no Brasil, mas em plástico, no volante da Saveiro Surf.
Injeção direta FSi
A tecnologia de injeção direta de combustível que hoje é padrão nos motores turbo da Volkswagen (TSI) deve sua estreia ao Lupo. O Lupo FSi, lançado pouco depois do 3L, utilizava um motor 1.4 quatro cilindros aspirado com essa tecnologia, elevando a potência de 100 cv para 105 cv e melhorando o consumo de combustível. Esse motor foi posteriormente disseminado por outros modelos da linha VW.
O Lupo GTI: um sucessor espiritual
O extremo oposto da eficiência era o Lupo GTI, lançado em 2000. A Volkswagen o considerava o verdadeiro sucessor do Golf GTI de primeira geração por seu tamanho, dinâmica e posicionamento de mercado.
Equipado com um motor 1.6 quatro cilindros aspirado de 125 cv e 15,4 kgfm de torque, ele era o único Lupo capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos (7,8 segundos) e atingir a velocidade máxima de 205 km/h.
O visual do GTI era diferenciado por para-choques exclusivos com entradas de ar maiores, para-lamas alargados, rodas maiores e uma notável saída de escape dupla centralizada. O interior contava com volante esportivo, forração vermelha e bancos exclusivos, embora o icônico tecido xadrez tenha ficado reservado ao Golf GTI.
O legado e a sucessão do Lupo
Com 480 mil unidades vendidas entre 1998 e 2005, o Volkswagen Lupo foi descontinuado sem um substituto direto imediato. Em vez disso, a VW passou a importar o Fox do Brasil, um carro consideravelmente maior e mais espaçoso.
Seu verdadeiro sucessor espiritual só chegou em 2011: o up!. Curiosamente, o nome do up! tem uma ligação direta com o Lupo; ele surgiu em uma época em que a Volkswagen usava nomes de conceitos que davam um spoiler do produto final (como o Iroc para o Scirocco). O up! era, literalmente, metade do nome Lupo (lupo) com um ponto de exclamação. O nome up! acabou sendo mantido para o modelo de produção.