Carlos Tavares deixou o cargo de CEO da Stellantis de forma súbita em dezembro do ano passado, após divergências com o conselho da empresa. O executivo português decidiu relatar suas experiências no comando do grupo em um livro, onde sugere a preocupação de que um fabricante chinês possa, futuramente, adquirir as marcas europeias da companhia.
Em declaração à Bloomberg, Tavares, de 67 anos, expressou preocupação com a possibilidade de o equilíbrio entre os interesses de Itália, França e Estados Unidos ser rompido, o que poderia levar a uma fragmentação na liderança da Stellantis. Ele ainda afirmou que sua saída abrupta é um sinal de que os interesses franceses podem não estar mais tão assegurados quanto estavam sob sua gestão.
Previsão de desmembramento e risco chinês
No seu livro, o ex-CEO da Stellantis detalha um cenário hipotético em que montadoras chinesas assumiriam o controle das marcas europeias do grupo, enquanto as divisões americanas retornariam a uma gestão independente. Tavares compara essa situação a movimentos anteriores na indústria, como a venda da Opel e da Vauxhall pela General Motors.
Esta hipótese ganha relevância dada a complexidade do grupo Stellantis, que congrega 14 marcas. A dificuldade da companhia em se desfazer de algumas dessas marcas tem sido uma fonte de tensão interna. Durante o período em que Carlos Tavares esteve no comando, a estratégia priorizou o foco na Europa. Paralelamente, divisões como a Ram mantiveram o uso de motores V8 Hemi, ao passo que marcas como Chrysler e Dodge ficaram em segundo plano.
Críticas à gestão e o lado da história
Além de sua estratégia, Carlos Tavares se tornou uma figura impopular entre funcionários e sindicatos, especialmente na Itália e nos Estados Unidos, devido à sua priorização de cortes de custos. Suas decisões estratégicas também encontraram resistência.
Após a renúncia de Tavares, o conselho da Stellantis manifestou publicamente seu desacordo com a condução que ele dava à empresa. Agora, o ex-CEO planeja usar o seu livro para apresentar a sua versão dos fatos e seu lado da história sobre a gestão e os desafios enfrentados no comando da gigante automotiva.